A tua namorada acabou co

Deuses no Estoicismo

Como falei a semana passada, praticar gratidão ajuda-nos a valorizar as coisas que temos, no agora, no presente.

Marcus Aurelius na abertura do seu diário “Meditações” agradece à sua família e professores, por tudo aquilo que lhe ensinaram.

Escreveu: “A cortesia e a serenidade, aprendi-as eu, primeiro, com o meu avô.”, “Com meu irmão Severo aprendi a amar os meus familiares, a amar a verdade e a justiça”, entre muitos outros. Cada um com o seu ensinamento.

Mas o último agradecimento não é a uma pessoa, mas sim aos Deuses:

“Aos deuses devo os meus bons avós, os meus bons pais, uma boa irmã, e os professores, camaradas, parentes e amigos, todos bons, quase sem excepção. (…)”.

Notem a diferença entre agradecimentos dos seus relativos e aos Deuses. Enquanto aos mais próximos Marcus agradece os valores que lhe foram passados, aos Deuses agradece toda a causalidade de ter tido essas pessoas à sua volta.

Essa causalidade faz parte do conceito inerente à filosofia estoica chamada de Logos.

O Logos pode ser visto como uma teia causa-efeito que existe no mundo.

Encontras uma nota de 50 euros na rua, com que compras uma harmónica, aprendes a tocar, e tornas-te um músico.

O chamado efeito borboleta. 

E todos os pontos na teia levaram-te até ao agora. Tudo o que aconteceu no mundo, e na tua vida.

(Sim… e todos aqueles erros que fizeste no 3º ciclo. Esses também contam.)

Essa teia é, segundo os estóicos, guiada pela razão racional do universo, e propaga-se em tudo o que existe, na Natureza. 

Natureza não como árvores e plantas, mas sim como tudo. Tudo material, vivo, morto, ou mesmo divino.

E, sendo que a Natureza é uma propagação do Logos, e esta inclui toda a causalidade do mundo, os estóicos concluem que a Natureza é Deus.

Mas não um Deus transcendente que vive nas nuvens, como estamos habituados a pensar, mas sim um Deus presente (ou a palavra mais bonita - imanente). Que está em tudo o que vemos, pensamos, e em tudo o que acontece. 

Ao que se chama de panteísmo. 

O homem vive com os Deuses. 

Não abaixo eles.

“Se existe alguma ligação entre Deuses e o Homem, é porque ambos partilham o Logos”

Até para a semana,

Miguel