Vamos falar sobre amor

Que coisa mais bela o amor.

Aquela sensação inexplicável de atração por outro, aquele olhar que nos perfura a realidade ou a alegria de ver aquele sorriso…

Não sei. Ouvi dizer.

Não estou aqui para ser um poeta, mas para ser um filósofo.

O que é o amor? E já agora, o que é isto de “amor platónico”?

Ainda bem que perguntaste Miguel.

Vamos passear para 365 AC, para uma jantarada em Atenas em casa de Agatão, um dramaturgo.

Neste jantar, encontravam-se personagens como Platão, Xenofonte, Diotima, e o grande filosofo que chegou atrasado, por alegadamente parar para pensar, Sócrates.

Agatão como hospede, pediu aos seus convidados que individualmente falassem sobre aquilo que sabiam do “eros” - o amor.

Escrito na obra “Simpósio“, Platão descreve-nos e compila o que se disse depois de muita comida e, de um modo prevalente, muitos copos.

Para Sócrates, a maioria aprende a amar de uma forma imediata e física, por ser atraído a alguém pelas suas características faciais e corporais. O amor romântico físico.

Mas alto e pára o baile!

Sócrates disse que este amor não é a sua real forma. Mas sim o primeiro passo na “Escada do amor”, ou a “Scala amoris”, ensinada por Diotima de Mantineia.

Nesta escada, o amor físico é apenas o nível mais superficial do amor.

“Em primeiro lugar, […] deve-se estar apaixonado por um corpo em particular para se gerar belos pensamentos nele;”

E de seguida, vem aquele que já ouvimos falar, mas não sabemos bem o que significa, o amor platónico ou da alma.

Neste nível de amor, o desejo sexual não intervém. O que existe é um amor fundamentado nos valores, no conhecimento, na moralidade e na bondade do ser da pessoa.

Platão escreve que não devemos repudiar o primeiro nível da escada, mas sim aceita-lo, e continuar á procura da real essência da beleza, continuando a subir a escada. Olhando além da aparência física e para o interior.

Em terceiro lugar na “Scala amoris”, temos o amor de grupos ou instituições. Amor sobre um grupo de amigos será o exemplo mais fácil. Não amamos as pessoas individualmente com a mesma intensidade, mas sim amamos o seu conjunto.

De seguida temos uma ascendência intelectual do amor. De um mundo completamente fisico para um intelectual. O tipo de amor que encontramos num trabalho, numa teoria filosófica ou como Platão exemplifica, sobre leis de um estado.

Teoricamente, quando atingimos este nível de amor, conseguimos interessar-nos por um bom intelecto, mesmo num corpo… menos propicio a gostos.

E chegamos ao ultimo degrau. A Beleza em si.

Ao que Platão descreve como o amor eterno, sobre tudo o resto.

Com tudo isto, a teoria é que quando vemos uma pessoa bonita, intuitivamente vemos algo além da sua aparência. Somos convidados a subir a escada que possivelmente nos guiará para a grande virtude da sabedoria.

E possivelmente, chegar a um nível como o de Epicuro, que dizia que não havia uma perda de tempo tão grande, como o de procurar prazeres sexuais. Pois ele tinha apenas um grande amor, a Filosofia.

Começaremos então, a subir a escada.