Fundações do lidanço

Acho que começar um email com “Olá a todos! Bem vindos á minha primeira newsletter!” me parece super fatela, mas temos que começar por algum lado, né?
Como considero que não há filosofia mais gasta hoje em dia que o Estoicismo (basta ir ao Medium e ver as mil e uma rotinas matinais do Marcus Aurelius), vou falar hoje sobre ela, visto que foi a que originou o “É lidar”. Para saber mais das suas origens podem visitar o artigo: O que é lidar.
“De todas as pessoas, apenas aquelas que têm tempo livre para se dedicar à filosofia, estão realmente vivas. Pois elas não apenas vigiam as suas próprias vidas, mas anexam todas as vidas à deles.” - Seneca
Diários e cartas que têm mais de 2 mil anos são hoje o guia para muitos de como viver uma vida mais completa e significativa guiada pela razão e lógica. O livro “Meditações” de Marcus Aurelius, um dos, senão o mais, poderoso imperador Romano de sempre, era o seu diário pensamentos e passagens da sua própria reflexão, não sabendo (ou sabendo, quem sabe) que seria um dos pináculos da sua própria filosofia. Cartas de Sêneca para Lucilius, constituem hoje o livro “Cartas de um estóico” para não falar do livro "Manual de Epicteto" escrito por um escravo, Epicteto, cujo nome significa literalmente “adquirido”, formam hoje pilares de conhecimento estóico.
Como vêm, pessoas de todos os caminhos da vida conseguem retirar algo útil e prático nesta filosofia, dai o seu reconhecimento e interesse.
O estóicismo começa por distinguir o que conseguimos e não conseguimos influenciar. Consigo controlar aquilo que eu visto, mas não o que o Zé da Esquina veste. Consigo controlar as minhas ações, mas não as do tipo que me bateu no carro. Consigo preparar-me para a apresentação de Português fazendo-a o mais interessante possível, mas não consigo controlar a atenção dos que vêm (não os julgo sinceramente). Tudo sob o nosso controlo é que merece a nossa atenção, tudo o resto são distracções da nossa virtude.
Como tal, precisamos de entender as nossas emoções… Não é pêra doce. De onde vem isto que sinto? Porque me sinto assim? O que posso fazer para mudar? Perguntas que os estóicos fazem constantemente para entender o seu estado interno. Nunca passivos, mas sempre à procura de como agir.
"A principal tarefa da vida é esta: identificar e separar as questões de forma que eu possa claramente identificar quais são externas e não estão sob o meu controlo, e quais estão relacionadas às escolhas que eu controlo. " – Epicteto
Acredito que se o Marcus estivesse vivo hoje seria o maior opositor do Instagram. Escreveu no seu diário icónico:
“Não desperdice o que resta da sua vida ao especular sobre seus vizinhos. Qualquer coisa que o distraia da fidelidade ao Governante dentro de você significa uma perda de oportunidade para alguma outra tarefa.” - Marcus Aurelius
Simplesmente, ignora o que os outros estão a fazer, e foca-te em alcançar aquilo que te faz o que queres ser.
A nossa realidade é formada pelas nossas opiniões.
“Tudo aquilo que ouvimos é uma opinião, não um facto. Tudo aquilo que vemos é uma perspectiva, não a verdade” - Marcus Aurelius
No mundo onde os media controlam o que nos é mostrado através de filtragem passiva e manipulação de informação que nos é apresentada para apelar á nossa atenção constante, nunca foram estas palavras tão importantes.
Seneca reiterava a ideia de termos uma boca e duas orelhas e usa-las nessas proporções. Ouvirmos os 2 lados da moeda especialmente quando um deles não vai de acordo com as nossas ideologias não é agradável. Neurologicamente o nosso corpo activa hormonas de defesa quando algo vai contra aquilo que acreditamos. Temos então, que dar uso ao cortex frontal, ouvir e argumentar com brio para chegar cada vez mais perto da verdade.
A “realidade” não existe fora da nossa percepção. Como interpretamos algo é como deixamos que nos afete. Um insulto não nos magoa na verdade, mas sim a nossa interpretação dele.
Para aliviar um bocado a tensão séria destes últimos parágrafos vou contar uma história de que gosto de dar uso para compreender, mesmo de uma maneira pateta, o que quero passar:
O João e a Joana estão a conduzir calmamente na 2ª Circular a ir para o trabalho. Alguém faz-lhes uma ultrapassagem pela direita. Segundo as aulas de código que estou a ter agora, isso não se pode fazer… malandrice. O João fica fu**** com o idiota que lhe passou e chega ao trabalho irado com a falta de respeito civil que foi vitima de. A Joana continua na sua, sabe que há pessoas com mais pressa que ela e quando chega ao trabalho vai beber calmamente o seu café.
Duas situações iguais, duas reacções diferentes.
Vejam como podem reagir para alcançar o melhor todos os dias. Isso vocês podem controlar.
Continuaremos para a semana sobre o estóicismo.
Obrigado por lerem. Se gostaram considerem enviar a alguém que precise de lidar.
- Miguel